Relatos De Um Bosque
Eu
caminhava por um bosque,
E as
árvores do bosque eram pessoas,
E o
bosque ficava num deserto,
E, mesmo
assim,
Tinha
água,
E era mais
de uma água,
E as águas
eram lágrimas,
E o meu
pensamento, úmido,
Deixava
correr... Deixava correr...
E por
isso nunca me esqueço:
As
árvores choravam,
As
árvores choravam orvalho.
Tinha
orvalho,
No bosque
tinha orvalho.
Tínhamos
orvalhos
No
bosque.
A seiva
corria vinte mil metros dentro de mim
E
derramava orvalhos pelas beiradas
Como
molhos vermelhos
Por cima
das bordas de catupiry.
Tinha
molhos
Brancos,
vermelhos, pretos e coloridos,
E em
sépia também.
Era, sem
dúvidas, um bosque molhado,
Regado a
extratos de tomates bastante diversos
Ou não.
Os molhos
molhavam, sim,
Mas tinha
secura
E,
portanto, chaves sem molho,
Fora do
chaveiro.
O que
fazer fora do chaveiro?
Girar...
Girar...
Éramos
chaves,
E chaves
abrem,
E chaves
também fecham.
Girar...
Girar...
Tudo
depende do sentido para o qual giramos.
Éramos
barreiras...
Eu era
barreira
E chave
da minha própria barreira.
Todos
éramos barreiras,
Barreiras
de nós mesmos
E chaves
de nossas próprias barreiras.
Imaginávamos...
Imaginávamos...
E,
todavia, o que havia do outro lado
Era muito
mais do que aquilo que, de fato,
Imaginávamos.
Não sei o
quê, mas muito mais...
Muito
mais...
Do outro
lado da barreira,
Do outro
lado da barreira.
Tinha
lenhadores no bosque,
Nós-lenhadores
de nós mesmos.
Tinha
lenhadores...
Tinha.
Podavam
para crescer,
Porque
nossos galhos crescem...
E vão
ficando pesados demais,
E nos
derrubam.
Sim,
nossos próprios galhos nos derrubam.
Ainda bem que havia lenhadores.
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